História

O topónimo Torno deverá referir-se a alguma nascente importante na época da denominação (anterior ao século XII) e nada tem a ver com “forno”, uma vez que ainda no século XVI se encontra a expressão “torno de água”, havendo um pequeno tributário do rio Barosa, chamado Torno, que nasce num sítio que era chamado no século XVII “os Torneiros”. Pode, no entanto, buscar-se uma aplicação antiquíssima, pois que, além de existirem fortificações castrejas nas imediações, que fazem supor um povoamento suficientemente remoto, manifesta-o também a restante toponímia: Juste é, na origem, uma Justi villa; Guetiz, Sesões e o antigo Cidram, de provável origem germânica, indicam idêntica propriedade.

Neste último local, designado villa ainda nos meados do século XIII, “villa que vocatur Sanctus Michael de Cidram” — dizem as inquirições —, existia naquela época uma velha ermida dedicada ao Arcanjo, o que é mais um óbvio indício de antiguidade. Talvez se tratasse de um templo erecto, como de costume para este culto, no alto de uma elevação, ou mesmo por aqui tivesse existido um pequeno cenóbio, lembrado do topónimo Mosteiro, na encosta da alta chã de Trevoada, muito adequada a tal culto e até à defesa dos povos antigos.

Culto igualmente muito antigo é o que se devota a S. Félix ou a S. Pedro no sítio propriamente dito Torno. O orago da freguesia veio a ser mesmo, numa solução salomónica, S. Pedro Fins, embora no século XIII apenas se dedicasse a igreja a S. Félix (isto é: S. Fins). O caso é que ambos os santos têm o seu dia a 29 de Junho, pelo que, tendo-se tornado cultos muito favoritos antigamente, passaram como que a ser considerados pelo povo um santo único.

A paróquia “ecclesie Sancti Felicis de Torno” já era tão antiga nos meados do século XIII e tão antiga a fundação da sua igreja (decerto dedicada apenas, primeiramente, a S. Félix, mártir de Gerona), que em 1258, sendo sufragânea do mosteiro de Pombeiro, já na terra se não sabia por que razão ou modo a possuia este notável cenóbio, que foi fundação e herança dos Sousãos (desde o conde Achígaz, de meados do século XI). Esta alta estirpe foi aqui herdada avultadamente, e é de supor que a doação da Igreja de S. Fins, do Torno, tivesse sido efectuada ao mosteiro o mais tardar no século XII pelos próceres da casa “de Sousa”. Do século XII para o XIII, um deles, D. Gonçalo Mendes “de Sousa” (o segundo do nome) apoderava-se deste templo talvez baseado em dívidas dele ou em direitos de família, que a tal dessem azo.

Pelos meados de Agosto, na freguesia de Torno, ou Senhora Aparecida, é tempo de romaria e festa rija. Conta-se que, aí pelo ano de 1823, no adro de Nossa Senhora da Conceição, não se sabe como, alguém descobriu a imagem da que viria a ser conhecida como Senhora Aparecida. Sabe-se, sim, é que o achado foi precedido por estranhos sinais que não paravam de chegar do céu em direcção à entrada de uma antiga mina seca que ficava ali, no mesmo sítio do adro.

Esta mina servia de abrigo a um simpático ermitão cuja origem ninguém conhecia, mas que era estimado por todos. Até pelos animais, para já não falar nas crianças que, encantadas, se sentavam ao seu redor a escutar lindas histórias de sonhar…

Assim corriam os anos até, que um dia, alguém estranhou o longo desaparecimento do velho. Talvez tivesse ido mais longe nas suas voltas, a algum povo distante, a mostrar um oratório que sempre levava consigo mais a imagem da Virgem Maria. Mas não voltou mais. Até que os tais sinais, relâmpagos certinhos e estrelas que caíam na boca da mina, levaram os fregueses e o pároco a pensarem que algo se passava na tal mina. Foi só escavar um pouco e logo apareceram restos das coisas do ermitão juntos com a bela imagem, de novo Aparecida.

A Lenda

“Nos últimos anos anos do século XVIII, pedia esmola por esta terra um pobre ermitão, contando-se ser estrangeiro.

Todos o amavam porque era muito bondoso, estimava os animais e respeitava as crianças.

Morava num subterrâneo, numa antiga mina seca, que existia no monte da Conceição, lugar onde hoje se encontra a Ermida de Nossa Senhora Aparecida. Trazia consigo, num oratório, uma imagem da Virgem Maria, que apresentava quando pedia esmola. Por vezes alargava os seus passeios e, assim, se passavam meses sem ser visto nestes sítios.

Mas, um dia, desapareceu de vez. O que lhe teria acontecido? Ninguém sabia responder. E, assim passou ao esquecimento. Passaram-se muitos anos, até que um fenómeno veio chamar a atenção do povo para o antigo abrigo do ermitão. Eram estrelas cadentes que, em noites seguidas, ali pareciam ir beijar o chão. E também faíscas eléctricas que, em dias de tempestade, ali caíam sem perigo. O povo e o vigário, admirados com o que se passava, resolveram ir escavar e encontraram sinais de uma mina aluída, onde apareceu a pequena imagem da Vírgem, que passou a tomar o nome de Senhora Aparecida.

Perto de tal imagem, encontrava-se uma panela, alguns restos e carvão. Era ali que o pobre mendigo descansava e foi ali, também, a sua sepultura. Foi, por certo, um novo aluimento que soterrou, mas deixando inteira a pequenina imagem que o acompanhou em vida.

Quando isto se descobriu, os sinos repicaram e lágrimas de alegria cobriram o rosto de todos quantos assistiram a este acontecimento.

A notícia correu todo o norte de Portugal. A partir daí, começou a peregrinação a este santo lugar. Assim começou a festejar-se a Romaria de Senhora Aparecida, nos dias 13, 14 e 15 de Agosto de cada ano. “